palavras de Lélia Abramo sobre sua infância
Em 1967, Lélia faz seu quarto filme dirigido por Luis Sérgio Person, "O Caso dos Irmãos Naves", por este filme ela ganha o Prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Brasília. Antes, em 1964, Lélia já havia ganho o Prêmio Roquete Pinto, pelo conjunto dos trabalhos feitos na TV. Em 1967, enquanto participa da novela "Paixão Proibida", de Janete Clair, ela também participa no teatro, numa tradução de Millôr Fernandes, de "Lisístrata", do autor Arostófanes. No ano seguinte, ela participa da única experiência do autor de livros Roberto Freire, na direção de cinema, no filme "Cléo e Daniel", participa da peça "Requién Para uma Noite de Sexta-Feira", e da novela "O Terceiro Pecado", de Ivani Ribeiro. Em 1970, enquanto participa de outra novela de Janete Clair, "As Bruxas", Lélia resolve produzir ela mesmo a peça "Os Olhos Vazados". Assim, ela consegue os direitos de realizar o projeto, mas na afobação, não se deu conta de que os direitos cedidos eram apenas para São Paulo, e apesar dos elogios, Lélia, que não pode viajar com a peça para fora de São Paulo, acaba conseguindo um empréstimo bancário, e paga todo o elenco, os técnicos, o aluguel do teatro, passando assim, dois anos saudando suas dívidas com o banco. Para compensar tantas dificuldades, no ano seguinte, ela tem a satisfação de ganhar o Prêmio Molière de Melhor Atriz pela atuação de "Olhos Vazados".
No final 1971, estava gravando na Globo a novela "Uma Rosa com Amor", aliás, por qual ganha o Prêmio da APCA de Melhor Atriz em novela. Recebe o convite do ator Cacá Diegues para participar do filme "Joana, a Francesa", com a grande atriz francesa Jeanne Moreau, da qual fica amiga.
Em 1973, participa da novela "Os Ossos do Barão", versão televisiva da peça homônima de Jorge Andrade, dirigido por Régis Cardoso, que obteve grande êxito de audiência, que permaneceu no ar até março de 1974. Depois disso continuou trabalhando em muitos casos especiais na televisão e, em 1975, ganha outro Prêmio da APCA, desta vez , pelo conjunto da obra na TV. Logo em seguida a premiação, Alberto Pieralise convida Lélia para participar do filme "O Comprador de Fazenda", única comédia interpretada por Lélia no cinema. Iria voltar a trabalhar no teatro somente em, com a peça "Ricardo III" de Shakespeare, sob a direção de Antunes Filho, com Juca de Oliveira como protagonista, e Lélia no papel da rainha, no primeiro ato, e no de Duquesa no segundo ato.
Em 1976, Lélia recebe em mãos o texto para crianças, e aproveitando o fato de que naquele momento havia condições produz a peça infantil "A Viagem de Um Barquinho" de Silvia Ortoffe. Não participa dela como atriz, somente como produtora. Mas o texto de muita sensibilidade, e com seu irmão Lívio Abramo, que fez lindos cenários, figurinos e adereços, criando um clima de fantasia e sonho, conseguindo manter a peça por quase dois anos com êxito e bilheteria.
No final de 1976, recebe o convite de Antunes Filho para participar da peça "Esperando Godot", peça de Samuel Beckett. A peça de grande impacto, com fundo filosófico, que se coadunava de certa maneira à realidade que vivíamos no Brasil, conquistando o Prêmio Governador do Estado de Melhor Atriz.
Participa ativamente, ao lado dos jovens na chapa Urdimento, encabeçando a chapa. Neste período, ainda lutando pela legalização de democracia no Brasil, e pelo sindicato dos atores de São Paulo, ganhando a chapa dos sindicato dos atores. Em 24 de maio de 1978, nove dias, portanto, após ter tomado posse do cargo de presidente do sindicato, foi aprovado a lei nº 6.533, que definia a profissão de ator, que já tramitava algum tempo em Brasília, porém, a sua regulamentação que Lélia começa a discutir.
Com essa vitória, a "classe", que tanto havia exigido a regulamentação como forma de garantia, e respeito às leis, estava exitando a proposta dos empresários, ou seja, da formação de sociedades civis sem fins lucrativos.
Lélia procurou esclarecer, por meio de circulares, as consequência dessa aceitação, explicando que os atores teriam enorme trabalho no final de suas carreiras para recolher e rever toda documentação trabalhista para fins de aposentadoria, tendo de procurá-la em locais e cidades diferentes e não raro em empresas já extintas ou, no mínimo, compradas ou herdadas por terceiros. Não houve resposta às circulares de Lélia.
Pouco depois é demitida, pela TV Globo, apesar de a lei não permitir a dispensa de um empregado quando em exercício da função de presidente de sindicato. Foi encontrado um subterfúgio: o personagem que interpretava na novela de grande sucesso ''Pai Herói'' - Lélia era um dos principais personagens da novela - ''morreu'' de repente e ficou desempregada. Lélia tinha a impressão de que sua demissão da Globo não foi provocada somente pela condenação a sua atuação sindical, um ds fatores agravantes deve ter sido uma certa marginalização que todos os velhos militantes da esquerda da década de 30, pois os seus opositores continuavam aferrados ao poder em incontáveis setores. A antiga militância sindical esquerda-trotskista de Lélia, naquele momento ocupava posição de destaque no setor das atividades culturais. Lélia foi suplente do partido do PT, além de sua luta pela anistia de muitos envolvidos com política desde a década de 30. Em 1982, participa da mini-série ''Avenida Paulista'', na rede Globo, graças ao diretor Walter Avancini. Faz participações em filmes como ''Minuche''; ''Maldita Coincidência'' e ''Eles não usam Black-Tie'', como mãe da personagem Maria (Bete Mendes). O papel de Romana, que Lélia fez no teatro, foi entregue a Fernanda Montenegro e Guarnieri, que no palco fora o filho, fazia agora o papel do marido de Romana e, portanto, de pai do personagem que havia representado, ainda jovem, 23 anos antes, quando de estréia da peça.
Em 1984, Lélia tem o papel principal da novela de grande sucesso ''Pão, Pão, Beijo, Beijo'', o personagem de Lélia fez tanto sucesso que na Itália a novela ganhou o nome de seu personagem ''Mama Vitória'', ela dá um show de interpretação na novela. Em 1985 foi chamada para fazer o papel de Bibiana (aliás, em grande interpretação só para variar), na versão televisiva do romance de Érico Veríssimo, ''O Tempo e o Vento'', adaptado por Doc Comparato, uma das mais belas mini-séries feitas no Brasil. Nesse mesmo ano, o diretor teatral João das Neves chama Lélia para participar da peça ''A Mãe'', de Bertold Brecht, baseada no romance homônimo de Máximo Gorki.
Em 1986, participa da novela da TV Manchete ''Mania de Querer'', participa do grande sucesso teatral ''Os Arcanjos da Poesia Surrealista e sua Exaltação''. Em 1989, Erundina tomou posse na prefeitura de São Paulo, e chamou Lélia para ocupar o cargo público da Secretária Municipal de Cultura de São Paulo'', entre suas propostas : uma escola para técnicos e demais funções inerentes ao teatro, desde o proscênio até aos bastidores e ao urdimento - eletricidade, marcenaria, pintura de cenários, carpintaria, enfim tudo de natureza artesanal; o projeto foi aprovado, mais para variar quando se trata de cultura no Brasil, ficou na gaveta.
Segundo projeto: foi criar nas escolas primárias uma forma de aproximação entre crianças e as pessoas da terceira idade, visando a superar a separação existente entre as gerações, com direito a pedagogo, psicólogo, psiquiatra e um professor primário para examinarem e analisarem o resultado da pesquisa., mais uma vez sem verba. Lélia passou seu dois últimos anos de mandato percorrendo a cidade toda, os bairros mais pobres e menos pobres, fazendo palestras para pessoas de terceira idade, que lotavam os espaços colocados à disposição.
Em 1991, participa da sua última novela ''A História de Ana Raio e Zé Trovão'', e no cinema do filme ''2001'', de Suzana Morais. Logo depois participou do projeto Teatro Comunitário, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, para trabalhar com os jovens pobres da periferia.
Lélia Abramo morreu em 9 de abril de 2004, aos 93 anos, vítima de uma embolia pulmonar.
Antonio Cândido descreve Lélia Abramo como uma atriz que "nunca vergou a espinha, nunca sacrificou a consciência à conveniência e desde muito jovem se opôs à injustiça da sociedade. Que sempre rejeitou as vias sinuosas e preferiu perder empregos, arriscar a segurança, sofrer discriminações para poder dizer a verdade e agir com seus pontos de vista..." (prefácio Vida e Arte).
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