sábado, 24 de março de 2012

35 ANOS DE UM CLÁSSICO DO CINEMA - UM DIA MUITO ESPECAIL\Una Giornata Particolare.


35 ANOS DE UM CLÁSSICO DO CINEMA - NUM DUELO DE TITÃS DE UMA DAS MAIORES DUPLAS DO CINEMA DE TODOS OS TEMPOS - ''SOPHIA LOREN'' & ''MARCELLO MASTROIANNI''.

Um Dia Muito Especial / Una Giornata Particolare


Nota: ★★★★

Anotação em 2010: Um Dia Muito Especial, que Ettore Scola fez em 1977, é uma obra-prima, um filme maior. É uma daquelas pérolas perfeitas, em que tudo, todos os componentes, estão no seu lugar exato, não sobra nada, não falta nada.

A idéia básica da trama é brilhante – assim como o roteiro, os movimentos da câmara, a fotografia, os figurinos, a direção de arte, a trilha sonora, e a interpretação magistral dos dois atores, os monstros sagrados Sophia Loren e Marcello Mastroianni.

A idéia básica da trama: no dia em que os ditadores da Alemanha e da Itália, Adolf Hitler e Benito Mussolini, se reúnem em Roma, diante de uma imensa multidão, 8 de maio de 1938, um ano antes do início da Segunda Guerra Mundial, uma mulher e um homem se encontram pela primeira vez, no conjunto residencial em que moram, em um bairro de classe média da capital italiana.

Temos então aquela justaposição de um episódio da Grande História com uma pequena história de ficção, o macro e o micro, que costuma gerar grandes histórias, grandes filmes. E este aqui é um dos maiores de todos eles.

O filme abre com um daqueles cinejornais que, até os anos 60, passavam nos cinemas antes da apresentação do filme principal: cenas reais, em preto-e-branco, do primeiro dia da visita de Hitler a Roma. Um locutor, com aquele timbre típico dos filmes de propaganda governamental, chapa-brancas, usa todos os tipos de adjetivos grandiloqüentos e vazios que se usam nas propagandas governamentais, chapa-brancas. É um longo cinejornal, que deve beirar aí uns cinco minutos. Termina anunciando que, no dia seguinte, os dois líderes se encontrarão novamente para assistir a um gigantesco desfile cívico-militar, ao qual todos os romanos deverão comparecer.

Bandeiras nazistas desfraldadas, e um glorioso plano-seqüência

E então, quando passamos do cinejornal preto-e-branco para o filme em cores, vemos uma mulher desfraldar gigantescas bandeiras com a suástica nazista num conjunto de diversos prédios de apartamento.

Em seguida, há um magnífico, glorioso, espetacular plano-seqüência. A câmara vai mostrando um dos prédios, vai se aproximando da janela da cozinha de um apartamento – a cozinha do apartamento de Antonietta, a personagem de Sophia Loren. O plano-seqüência continua, sem corte algum: a câmara entra pela janela do apartamento e passa a seguir Antonietta. Ela está passando roupa; pega uma xícara de chá e vai andando pelo apartamento, acordando os filhos – um, dois, três, quatro. Perdi a conta do número de filhos. Antonietta depois dirá que são seis. E a câmara a segue pelos quartos da casa, sem corte algum. O penúltimo a ser acordado é o marido. No rápido diálogo entre ele e a mulher, em que ele reclama que ela está o incomodando desde as 5 horas da manhã e ela o informa de que já são quase 6, e ele reclama por ela não tê-lo chamado mais cedo, já ficamos sabendo como é a vida daquele casal.

Em um único plano, uma única tomada, Scola e seus co-roteiristas definem a personalidade de Antonietta. É a mulher escrava, a trabalhadora braçal, a parideira, aquela criação clássica das sociedades machistas – a mulher que obedece sempre ao marido, que faz tudo o que ele manda, que não tem vida ou vontade próprias.

Acontece, por mero acaso, de Antonietta ser uma mulher bonita. Mas os maquiladores, o figurinista, o diretor Scola e a própria Sophia Loren fizeram muito bem feito aquele trabalho de desglamourizar a atriz, a estrela linda, o monstro sagrado do cinema italiano; Antonietta nasceu bela, mas a vida a maltratou – é uma mulher cuja beleza foi enevoada pelo dia-a-dia de serva da casa.

Durante uns cinco minutos, acompanhamos a manhã da família numerosa. Todos estão se aprontando para comparecer à grande cerimônia, o encontro dos dois líderes dos países aliados. Vemos que o marido de Antonietta é um fascista de carteirinha, e toda a filharada é composta de aprendizes de fascistas.

Como cordeirinhos, todos vão aplaudir os ditadores

Numa seqüência também antológica, vemos todos os moradores do conjunto de prédios descendo de seus apartamentos à mesma hora, para irem todos, como cordeirinhos, como manda o manual das ditaduras, aplaudir seu líder máximo.

Só Antonietta fica em casa. Em todo o conjunto de prédios, ficam só Antonietta, a zeladora e um sujeito que mora sozinho em um apartamento do outro lado do conjunto, janela diante da janela do apartamento de Antonietta. O sujeito é Gabriele – o personagem de Marcello Mastroianni.

Scola e seus co-roteiristas Maurizio Costanzo e Ruggero Maccari escolheram, para fazer com que os destinos de Antonietta e Gabriele se cruzassem, a figura de um papagaio. O papagaio de Antonietta se aproveita do momento em que a dona abre a portinha da gaiola para dar comida e foge. Vai parar do outro lado do pátio, junto da janela do apartamento em que Gabriele endereça um grande número de envelopes, numa mesa em que há um revólver. Gabriele, o espectador percebe, está prestes a usar o revólver contra si próprio – mas nisso toca a campainha; Antonietta, a vizinha desconhecida, explica que seu papagaio está junto da janela dele.

Estamos aqui com uns 15 minutos de filme, e vamos começar a ver o relacionamento que se desenvolverá entre aquela mulher cansada, frustrada, sem brilho, sem vida própria, e aquele homem, ao longo de um dia inteiro em que os aparelhos de rádio transmitem todos os detalhes da festa de reunião dos dois ditadores.

Diversas sinopses revelam fatos que o filme só explicitará quando já estiver avançado em sua metade final. Até a caixinha do DVD dá os spoilers. Acho isso um crime. Não sei se alguém que ainda não viu Um Dia Muito Especial vai ler esta anotação – mas, mesmo assim, não vou fazer a indignidade de dar informações que Scola leva mais de uma hora para entregar.

Um cineasta apaixonado pelo cinema e pelos grandes afrescos

Scola, um dos maiores cineastas da Itália, esse país que tem uma das mais brilhantes cinematografias do mundo, adora o cinema, os filmes – e tem uma especial paixão por grandes afrescos, filmes que contam histórias que avançam por várias décadas, a Grande História atrás, emoldurando a história dos seus personagens. Nós que nos Amávamos Tanto, de 1975, retrata a Itália desde a Segunda Guerra até aqueles meados dos anos 70. O Baile, de 1983, retrata a vida na França ao longo de quase todo o século XX. Em A Família, de 1987, vemos a história de uma grande família ao longo de várias décadas.

É fascinante ver como aqui ele optou pelo inverso: concentra toda a ação em um único dia, una giornata particolare, um dia muito especial tanto na Grande História quanto na história desses dois personagens afundados em sua profunda solidão.

Em Nós que nos Amávamos Tanto, ao retratar a Itália entre os anos 40 e 70, através das histórias de três homens que amam a mesma mulher, Scola faz, também, um inventário do próprio cinema italiano, do neo-realismo do imediato pós-guerra até a época em que foi feito o filme. Embora não use o nome do colega de profissão, cita o estilo de Antonioni, o cineasta que começou no neo-realismo e depois de concentrou na dificuldade de comunicação entre pessoas da burguesia. Cita Fellini com todas as letras, ao colocar seus personagens participando da filmagem da famosíssima cena em que Anita Ekberg entra na Fontana di Trevi, de A Doce Vida, e não só cita Vittorio De Sica como coloca o próprio cineasta para participar da história.

Ao reunir Sophia Loren e Marcello Mastroianni num conjunto habitacional de Roma, Scola estava também, de maneira óbvia, fazendo uma citação do cinema italiano. A maior estrela e o maior astro italianos dos anos 60 até os 80 já haviam trabalhado juntos em diversos filmes marcantes, de grande sucesso. É óbvio que, ao ver Um Dia Muito Especial, qualquer espectador italiano – ou brasileiro, ou australiano, ou egípcio, ou o que for – se lembraria do casal. Eles contracenaram em Casamento à Italiana, de 1964, de De Sica, nos três episódios de Ontem, Hoje, Amanhã, do mesmo ano e do mesmo De Sica, em Os Girassóis da Rússia, de 1970, também de De Sica, em A Mulher do Padre, de 1971, de Dino Risi.

A seqüência de Ontem, Hoje, Amanhã em que Sophia faz um strip-tease diante de um entusiasmado Mastroianni é uma das mais antológicas do cinema italiano.

E só por isso, por reunir os dois grandes atores, os dois monstros sagrados, neste filme, por estar assim citando obras importantes do cinema italiano, já seria de se aplaudir Um Dia Muito Especial.

Sophia e Mastroianni estão, aqui, em papéis bem diferentes dos que foram mais usuais em suas carreiras. Sophia fez muitas mulheres simples, mulheres do povo – mas sua beleza extraordinária sempre foi realçada, enriquecida, glamourizada. Aqui, é o contrário: ela passou, como eu até já disse, por um duro processo de desglamourização; está bem mais magra do que em outros filmes; está absolutamente diferente daquela Sophia bastantosa (meu Deus do céu e também da terra, e põe bastantosa nisso!) da cena do strip-tease de Ontem, Hoje, Amanhã. E Mastroianni, em outro caso de escolha de papel oposto ao mais comum, está a anos-luz do bonitão charmoso, conquistador irresistível, de A Doce Vida ou Oito e Meio, para citar apenas dois de seus muitos filmes.

Estão brilhantes, Sophia e Mastroianni, como os pobres, solitários, sofridos, doídos personagens de Um Dia Muito Especial.

E Scola, esperto, inteligente, aproveitou ao máximo o fato de estar contando uma história em que os dois são os protagonistas, e todos os demais atores aparecem pouquíssimo. Em quase todas as tomadas em que Antonietta e Gabriele estão juntos, a câmara de Scola focaliza os dois ao mesmo tempo.

É um grande prazer, para qualquer pessoa que goste de cinema, ver, na mesma tomada, Sophia Loren e Marcello Mastroianni.

Uma brutal condenação do povo italiano por ter seguido Mussolini

Marcello foi indicado ao Oscar de melhor ator, e o filme foi um dos cinco indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Teve as duas mesmas indicações para o Globo de Ouro, e levou o prêmio de melhor filme estrangeiro. Na França, levou o César de filme estrangeiro e participou da mostra competitiva de Cannes. Na Itália, levou o David de Donatello de melhor direção e melhor atriz.

Leonard Maltin dá 2.5 estrelas e, em duas linhas, faz o spoiler, conta o que Scola leva mais de uma hora para dizer.

Pauline Kael fala da beleza de Sophia: “Sophia Loren, sem cosméticos visíveis, usa um vestido caseiro desmazelado. Mas tendo como produtor o marido e Pasqualino de Santis como o cameraman iluminador, quem precisa de maquilagem e roupas bonitas? Ela nunca esteve mais deslumbrante ou deu uma interpretação tipo grande dama com tão completo domínio. Este filme é perfeitamente dosado para sua pontinha de coragem: grandes astros interpretando papéis não característicos.”

Ahá: eu ainda não tinha lido isso quando falei exatamente a mesma coisa, alguns parágrafos acima.

Aí Pauline Kael entrega o spoiler, e eu pulo o trecho. E ela prossegue:

“A humilhação dos dois forma uma atração mútua durante algumas horas ao percebermos que a sociedade os tratou com injusta crueldade. É realismo em moldura dourada. Este é um extenuante exercício de Ettore Scola num estilo que se poderia chamar de imprudência com finura.”

Em Off-Hollywood Movies, Richard Skorman, que dá para o filme 5 estrelas, a maior cotação, diz: “A direção de Scola é brilhante, captando emoções sutis em praticamente cada cena, ao mesmo tempo em que brutalmente acusa os italianos por terem seguido cegamente Mussolini e o fascismo. Até a trilha sonora de A Special Day, que consiste na sua maior parte da narração da cerimônia de que participam Hitler e Mussolini, serve como um fascinante documento histórico, ao mesmo tempo acentuando a repressão política e pessoal sobre as vidas de Gabriele e Antonietta.”

Ótima observação, essa: sim, o filme acusa brutalmente o povo italiano por ter seguido Mussolini e o fascismo. Esse é o pano de fundo de todo o filme. Um único personagem do filme não compactua com aquele ufanismo imbecil, babante – e os Estados totalitários não admitem contestação alguma, como veremos mais uma vez confirmado no tristíssimo final desta narrativa brilhante.

Um Dia Muito Especial/Una Giornata Particolare

De Ettore Scola, Itália-Canadá, 1977

Com Sophia Loren (Antonietta), Marcello Mastroianni (Gabriele)

Argumento e roteiro Ettore Scola, Maurizio Costanzo e Ruggero Maccari

Fotografia Pasqualino De Santis

Música Armando Trovajoli

Montagem Raimondo Crociani

Produção Carlo Ponti, Canafox Films

Cor, 105 min

****

Título nos EUA: A Special Day


Awards for - PRÊMIOS
Um Dia Muito Especial (1977) Una giornata particolare (original title)



Academy Awards, USA
YearResultAwardCategory/Recipient(s)
1978 Nominated Oscar Best Actor in a Leading Role
Marcello Mastroianni
Best Foreign Language Film
Italy
Cannes Film Festival
YearResultAwardCategory/Recipient(s)
1977 Nominated Palme d'Or Ettore Scola
César Awards, France
YearResultAwardCategory/Recipient(s)
1978 Won César Best Foreign Film (Meilleur film étranger)
Ettore Scola
David di Donatello Awards
YearResultAwardCategory/Recipient(s)
1978 Won David Best Actress (Migliore Attrice)
Sophia Loren
Tied with Mariangela Melato for Il gatto (1977).
Best Director (Migliore Regia)
Ettore Scola
Golden Globes, Italy
YearResultAwardCategory/Recipient(s)
1977 Won Golden Globe Best Actor (Migliore Attore)
Marcello Mastroianni
Best Actress (Migliore Attrice)
Sophia Loren
Best Film (Miglior Film)
Ettore Scola
Golden Globes, USA
YearResultAwardCategory/Recipient(s)
1978 Won Golden Globe Best Foreign Film
Italy
Nominated Golden Globe Best Motion Picture Actor - Drama
Marcello Mastroianni
Italian National Syndicate of Film Journalists
YearResultAwardCategory/Recipient(s)
1978 Won Silver Ribbon Best Actress (Migliore Attrice Protagonista)
Sophia Loren
Best Score (Migliore Musica)
Armando Trovajoli
Best Screenplay (Migliore Sceneggiatura)
Maurizio Costanzo
Ruggero Maccari
Ettore Scola
National Board of Review, USA
YearResultAwardCategory/Recipient(s)
1977 Won NBR Award Top Foreign Films

sábado, 17 de março de 2012

ARACY DE ALMEIDA - A VERDADEIRA PRIMEIRA DAMA DO SAMBA, ARQUIDUQUESA DO SAMBA, O SAMBA EM PESSOA, A DAMA DA CENTRAL, MUSA DE NOEL ROSA, SÃO SÓ ALGUNS DOS TÍTULOS DADO A ESSA QUE FOI UMA DAS MAIORES CANTORAS DO MUNDO..




Aracy de Almeida era uma figuraça e uma "cantoraça" também. Quem é mais novo e só a conheceu como uma jurada ranzinza do "Show de Calouros", comandado por Silvio Santos, não imagina sua importância na MPB. Não fosse ela uma ótima intérprete — brejeira e levemente maliciosa — Aracy entraria para a história de nossa música pelo menos como a principal divulgadora da obra de Noel Rosa, o que, convenhamos, já não seria pouca coisa. No programa MPB Especial (TV Cultura, 1972) que agora vira CD (à venda apenas no Sesc-SP ou pelo site www.sescsp.com.br), Aracy com seu jeitão divertido e sua voz grave conta diversas histórias curiosas. Pena que num programa de TV seus lendários palavrões ficaram de fora. Dizem que ela disputava esse quesito com Carmen Miranda. Eram duas gozadoras de marca maior e caprichavam no vocabulário numa época em que as mulheres tinham que ser santinhas. E santinha Aracy não era mesmo. Adorava a boêmia, viver cercada de homens inteligentes e de ótimos sambas, tais como Tenha Pena de Mim — "o samba que me fez  popular" — passando por diversos de Noel, segundo ela "um rapaz magrinho, bacana, boêmio e muito inteligente", que ela popularizou (Palpite Infeliz, São Coisas Nossas, Feitio de Oração (sua preferida), Com que Roupa, O X do Problema e outras), além de um pot-pourri de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira (O Passarinho do Relógio, O Passo do Kanguru e outras), delícias de Wilson Batista (Louco), Ary Barroso (Camisa Amarela), Assis Valente (Fez Bobagem), Custódio Mesquita (Saia do Caminho), Antonio Maria (Se Eu Morresse Amanhã de Manhã) e até Caetano Veloso — que lhe deu a engajada A Voz do Morto(de 1968). Se a voz dela já não era a mesma em 72 — e ela mesma faz uma autocrítica durante o programa — dá para se ter uma ideia senão de sua genialidade como cantora, por seu temperamento artístico e pessoal irrequieto.(Rodrigo Faour)
Aracy Teles de Almeida (Rio de Janeiro, 19 de agosto de 1914 — Rio de Janeiro, 20 de junho de 1988) foi uma cantora brasileira.
Teve grande convivência com o compositor Noel Rosa. Também foi jurada do programa Show de Calouros de Silvio Santos. Era conhecida como "Dama da Central" (do Brasil), pois somente viajava de trem, "A Dama do Encantado" (em referência ao bairro em que morou no Rio), ou "O Samba Em Pessoa".
Cantava samba, mas era apreciadora de música clássica e se interessava por leituras de psicanálise, além de ter em sua casa quadros de pintores brasileiros como Aldemir Martins e Di Cavalcanti, com quem mantinha amizade. Os que conviviam com ela, na intimidade ou profissionalmente, a viam como uma mulher lida e esclarecida. Tratada por amigos pelo apelido de "Araca", Noel Rosa disse, em entrevista para A Pátria, em 4 de janeiro de 1936: "Aracy de Almeida é, na minha opinião, a pessoa que interpreta com exatidão o que eu produzo".
VIDA

Aracy Teles de Almeida nasceu em 19 de agosto de 1914. Foi criada no subúrbio carioca, no bairro de Encantado, numa grande família protestante; o pai, Baltazar Teles de Almeida, era chefe de trens da Central do Brasil e a mãe, dona Hermogênea, dona de casa. Tinha apenas irmãos homens.
Estudou num colégio no bairro do Engenho de Dentro, onde foi colega do radialista Alziro Zarur, passando depois para o Colégio Nacional, no Méier. Aracy costumava cantar hinos religiosos na Igreja Batista e, escondida dos pais, cantava músicas de entidades em terreiros de macumba e no bloco carnavalesco "Somos de pouco falar". "Mas isso não rendia dinheirim", como Aracy dizia.
Mais tarde, conheceu Custódio Mesquita, por intermédio de um amigo. Cantou para ele a música Bom-dia, Meu Amor (Joubert de Carvalho e Olegário Mariano), conseguindo entrar a Rádio Educadora (depois Tamoio), em 1933. Ali mesmo, conheceu Noel Rosa e aceitou o convite, que ele lhe fez, para "tomar umas cervejas cascatinhas na Taberna da Glória". Desde este dia, o acompanhou todas as noites.
No ano seguinte, gravou para o Carnaval seu primeiro disco, pela Columbia, com a música Em plena folia (Julieta de Oliveira). Em 1935, assinou seu primeiro contrato com a Rádio Cruzeiro do Sul e gravou Seu Riso de Criança, composição de Noel Rosa, de quem se tornaria a principal intérprete.
Transferindo-se para a Victor, participou do coro de diversas gravações e lançou, ainda em 1935, como solista, Triste cuíca (Noel Rosa e Hervé Cordovil), Cansei de pedir, Amor de parceria (ambas de Noel Rosa) e Tenho uma rival (Valfrido Silva). A partir de então, tornou-se conhecida como intérprete de sambas e músicas carnavalescas, tendo sido apelidada por César Ladeira de "O Samba em Pessoa". Trabalhou na Rádio Philips com Sílvio Caldas, no Programa Casé; na Cajuti, Mayrink Veiga e Ipanema, excursionando com Carmen Miranda pelo Rio Grande do Sul.
Em 1936 foi para a Rádio Tupi e gravou com sucesso duas músicas de Noel Rosa: Palpite infeliz e O X do problema. Em 1937 atuou na Rádio Nacional e destacou-se com os sambas Tenha pena de mim (Ciro de Sousa e Babau), Eu sei sofrer (Noel Rosa e Vadico) e Último desejo, de Noel Rosa, que faleceu nesse ano.
Gravou, em 1938, Século do Progresso (Noel Rosa) e Feitiço da Vila (Noel Rosa e Vadico), e, em 1939, lançou em disco Chorei quando o Dia Clareou (Davi Nasser e Nelson Teixeira) e Camisa amarela (Ari Barroso). Para o Carnaval de 1940, gravou a marcha O Passarinho do relógio (Haroldo Lobo e Milton de Oliveira) e, no ano seguinte, O Passo do canguru (dos mesmos autores).
Em 1942, lançou o samba Fez Bobagem (Assis Valente), Caramuru (B.Toledo, Santos Rodrigues e Alfeu Pinto), Tem galinha no bonde e A Mulher do leiteiro (ambas de Milton de Oliveira e Haroldo Lobo). Fez sucesso no Carnaval de 1948 com Não me Diga Adeus (Paquito, Luis Soberano e João Cerreia da Silva) e, em 1949, gravou João ninguém (Noel Rosa) e Filosofia (Noel Rosa e André Filho).
Entre 1948 e 1952, trabalhou na boate carioca Vogue, sempre cantando o repertório de Noel Rosa; graças ao sucesso de suas interpretações nessa temporada, lançou pela Continental dois álbuns de 78 rpm com músicas desse compositor: o primeiro deles, lançado em setembro de 1950, continha Conversa de botequim (com Vadico), Feitiço da Vila (com Vadico), O X do problema, Palpite infeliz, Não tem tradução e Último desejo; no segundo, lançado em março de 1951, interpretou Pra que mentir (com Vadico), Silêncio de um minuto, Feitio de Oração (com Vadico), Três apitos, Com que roupa e O Orvalho Vem Caindo (com Kid Pepe).
Foi, ao lado de Carmen Miranda, a maior cantora de sambas dos anos 30. Depois de atuar com sucesso na boate Vogue em Copacabana na década de 40, entre 1950 e 1951, gravou dois álbuns dedicados a Noel Rosa, que seriam responsáveis pela reavaliação da obra do poeta da Vila.
Mudou-se para a Cidade de São Paulo em 1950, e lá viveu durante 12 anos. Em 1955, trabalhou no filme Carnaval em lá maior, de Ademar Gonzaga, e lançou, pela Continental, um LP de dez polegadas só com músicas de Noel Rosa, no qual foi acompanhada pela orquestra de Vadico, cantando, entre outras, São Coisas Nossas, Fita Amarela e as composições inéditas Meu Barracão, Cor de Cinza, Voltaste e A Melhor do Planeta (com Almirante).
Três anos depois, lançou pela Polydor o LP Samba em pessoa. Em 1962 a RCA, reaproveitando velhas matrizes, editou o disco Chave de ouro. Em 1964, gravou com a dupla Tonico e Tinoco, o cateretê Tô chegando agora (Mário Vieira) e apresentou-se com Sérgio Porto e Billy Blanco na boate Zum-Zum no Rio de Janeiro.
Em 1965, fez vários shows no Rio de Janeiro: "Samba pede passagem", no Teatro Opinião; "Conversa de botequim", dirigido por Miele e Ronaldo Boscoli, no Crepúsculo; e um espetáculo na boate Le Club, com o cantor Murilo de Almeida. No ano seguinte, a Elenco lançava o disco Samba é Aracy de Almeida. Com o cômico Pagano Sobrinho, fez "É proibido colocar cartazes", um programa de calouros da TV Record, de São Paulo, em 1968. No ano seguinte, a dupla apresentou-se na boate paulistana Canto Terzo. Ainda em 1969, fez o show "Que maravilha!", no Teatro Cacilda Becker em São Paulo, ao lado de Jorge Ben, Toquinho e Paulinho da Viola.
Depois disso, com a entrada da bossa nova, os intérpretes de samba já não eram tão solicitados. Aracy trabalhou em vários programas de TV: ''É Proibido Colar Cartazes''( com Pagano Sobrinho ) este um programa de calouros na TV Record , ''Programa do Bolinha; na TV Tupi, com Mário Montalvão; na TV Globo, com a ''Buzina do Chacrinha''; no ''Programa Silvio Santos''; programas na TVE; ''Programa da Pepita Rodrigues'', na TV Manchete; ''Programa do Perlingeiro'', na TV Excelsior; no Almoço com as estrelas, com Aérton Perlingeiro, entre outros.
Em 1988, Aracy teve um edema pulmonar. No início, ficou internada em São Paulo, retornando ao Rio de Janeiro para o hospital da SEMEG, na Tijuca. Silvio Santos a ajudou financeiramente na época em que esteve doente e lhe telefonava todos os dias, às 18 horas, para saber como ela estava.
Depois de dois meses em coma, voltou a lucidez por dois dias, e, num súbito aumento de pressão arterial, faleceu no dia 20 de junho, aos 74 anos. Seu corpo foi velado no teatro João Caetano, visto que seu último show com Albino Pinheiro havia sido lá. O Jardim da saudade doou o túmulo para ela, porém já havia uma gaveta no cemitério em São Paulo, mas Adelaide não quis levá-la para lá. O Corpo de Bombeiros percorreu parte do Rio de Janeiro com o seu túmulo como homenagem, passando pelos lugares importantes freqüentados por Aracy (Copacabana, Glória, Lapa, Vila Isabel, Méier e Encantado). Ela não casou e não quis ter filhos, apesar de ter morado com alguns namorados, embora no final dos anos 30, Aracy dividiu o travesseiro com o goleiro do Vasco da Gama, time de seu coração. Ela mesma atestou, num formulário da Previdência, aos 25 anos: "estado civil, casada; nome do esposo: José Fontana". Conhecido como Rey, o goleiro do Vasco.
 Já os seus principais amigos eram todos homens, como Vinicius de Morais, Fernando Lobo, Clóvis Graciano, Di Cavalcanti, Carlão Mesquita, Aldemir Martins e principalmente Hermínio Bello de Carvalho (principal frequentador de sua casa). Também se dava bem com gays, como o estilista Denner e Clodovil e o cantor da noite Murilinho de Almeida. Denner, aliás, foi o criador do modelo pelo qual ela viria a ser conhecida: calça comprida, porque ela já não ficava bem em vestidos; bota ortopédica, pois ela tinha pés chatos; e camisas da Vigotex, que a associavam ao imaginário psicodélico, reforçado pelo cabelo black power e os óculos de armação grossa, Aracy ajudou muito Denner, e quando perguntavam se ela ajudou ele na sua boutique, ela dizia rapidamente: ''Não era Boutique era Atelier, é ninguém ajuda ninguém, e estamos conversados'' (hilária e modesta).
Uma das grandes admiradoras de Aracy era a grande Carmen Miranda, que reconhecia nela a criadora de um grande estilo e Silvio Santos (alguns dizem que muito mais por interesse, pois ela era a principal audiência do seu programa).
Em 1968, a pedido da própria Aracy, Caetano Veloso compôs uma música para ela, "A voz do morto". Ela a gravou, num compacto-simples, para a Bienal do Samba de São Paulo daquele ano. O morto, claro, era Noel Rosa. Não se sabe por que, a música foi proibida pela censura, e ficou praticamente desconhecida, embora junto com outra faixa ''Samba para Vida'', são duas das maiores pérolas do samba de todos os tempos. Mas ela ainda a cantava no ano seguinte, no show ''Que Maravilha!'', com Jorge Ben e Paulinho da Viola. Aracy gostava daquela turma nova, principalmente de Caetano e sua irmã Maria Bethânia, Paulinho e os Jorge Mautner e Ben Jor.  E eles a adoravam.
Cantava samba, mas era apreciadora de música clássica e se interessava por leituras de psicanálise, além de ter em sua casa quadros de importantes pintores brasileiros como Aldemir Martins e Di Cavalcanti. Os que conviviam com ela, na intimidade ou profissionalmente, a viam como uma mulher lida e esclarecida.
NO CINEMA

1968 - Cordiais Saudações (curta-metragem)
1967 - Perpétuo contra o Esquadrão da Morte
1955 - Carnaval em Lá Maior
1948 - Esta É Fina
1946 - Segura Esta Mulher
SAMBA

Apesar de desbocada, ainda menina, cantou sambas e marchas nas Escolas de Samba.
Em 1933 apresentado a Custódio Mesquita a conduziu ao seu programa na Rádio Educadora, ano que conheceu Noel Rosa, nascendo ali uma grande amizade, apesar de nunca haver nenhuma relação amorosa, Noel mesmo assim compôs para ela música Riso de Crianças, que Aracy grava em 1935. A partir de então, passou a compor músicas exclusivas para ela.
Devido a sua estatura, baixa, magra, não frequentou o Cassino da Urca e nem foi capa de revista.
Com a morte de Noel Rosa em 1937, passa a compor marchinhas carnavalescas.
Em 1946 estreou no cinema com o filme Segura Esta Mulher.
NA MÚSICA
A longa temporada na Boate Vogue, depois da morte de Noel Rosa resultou num dos primeiros álbuns que hoje seriam chamados de "conceituais" da fonografia nacional: da primeira à última faixa, formando um todo, Aracy canta Noel. Com apresentação caprichada, arranjos de Radamés Gnattali, capa de Di Cavalcanti (que, diga-se, é um primor), o disco se tornou um sucesso imediato, jogou Aracy para o topo da parada de sucessos. Seguiram-se outros dois pela Continental, um deles também dedicado a Noel. Algumas canções desses três discos saltaram da condição de inéditas para a de clássicos instantâneos.
Na década de 50 trocou o Rio de Janeiro por São Paulo e foi contratada pela Rádio Record.
Na década de 70 atuou na televisão como apresentadora e jurada, na Buzina do Chacrinha e depois no Show de Calouros, apresentado por Silvio Santos.
Faleceu em 20 de junho de 1988, de embolia pulmonar, aos 74 anos de idade, no Rio de Janeiro.
BORDÕES. DIZERES OU FRASES DE ''ARACY DE ALMEIDA''.
''MATUSQUELA''
''TENHO OS BOFES AZEDOS''
''SOU MUITO ENJOADA, SOFRO DE VAGOTONIA, TENHO O VAGO SIMPÁTICO AFETADO''
''VOU MANDAR DEZ PAUS E ESTAMOS CONVERSADO''
''SÃO UNS TREMENDOS PISTOLEIROS''
''EU SOU A FAMOSA FAMIGERADA DAMA DA CENTRAL''
''QUEM CANTA DE GRAÇA É GALO''
''EU NÃO ME VISTO EU ME CUBRO''
''EU ACHO UM LUXO!''
''ENTÃO VAMOS SE ARRANCAR DAS BOCAS''
''ELE GOSTA DESSAS PAPAGAIADAS''
''TENS ALGUM BAGULHO AÍ PRO MEU VAGO-SIMPÁTICO?''
''VAMOS DIZER QUE ELA NÃO ESTÁ MAIS NAS BOCAS''
''AH! NÃO CONHECIII(...), COMIGO NO''
''ACHO LINDO! DIVINO! MARAVILHOSO!''
''VAI LEVAR DEZ PAUS, PELA CARA DE PAU''

Em fevereiro de 2012, foi anunciado que Jaclyn Smith será estrela convidada da série de TV CSI: Crime Scene Investigation

Smith de ator convidado em CSI
Na próxima semana, Jaclyn Smith vai atirar seu tiro convidada no seriado de TV CSI série.
O show está em sua 12 ª temporada e Jaclyn Smith interpreta a mãe do personagem de laboratório de tecnologia de Wallace Langham, David Hodges.
Fontes relatam na internet que a história linha tem Sra. Hodges (Smith) makeing uma visita surpresa ao ver seu filho e começa a interagir com todos os seus colegas de trabalho de uma forma divertida.